O Pr. Jónatas Rafael Lopes
iniciou uma nova série de mensagens a que chamou “Estrada para Cristo” no
Antigo Testamento. O objetivo é mostrar que tudo, no Velho Testamento, aponta
para a pessoa de Jesus, pelo que é perigoso fazermos analogias entre as personagens e seus feitos
heróicos e a nossa própria vida. Tendemos a pensar que a Bíblia é um livro de
histórias de heróis, os quais devemos imitar a fim de sermos vitoriosos assim
como eles o foram. Passamos a identificarmo-nos com determinada pessoa e o nosso
foco passa a ser aquilo que poderemos obter da nossa vivência. Isto é, a nossa
alegria passa a estar centrada nas bênçãos de Deus e não no Deus das bênçãos.
Assim, não devemos olhar para as
histórias relatadas na Bíblia como algo que também sucederá na nossa vida, pois
a Bíblia é um livro que aponta para Cristo e para o maravilhoso plano de
reconciliação de Deus com a humanidade, consumado por Jesus na cruz.
Comecemos por analisar a vida do
rei Josias e a forma como esta aponta para a pessoa de Cristo. Leiamos a
história de Josias registada em II Reis 22 e 23. Eis o contexto social em que
esta se insere:
Josias foi Rei de Judá (que
resultou da divisão do Reino em Norte e Sul) de 629ac a 609ac. Josias era
bisneto de Ezequias, que também foi rei de Judá (o 13º). Israel já tinha sido
levado em cativeiro pelos Assírios e Samaria tinha sido tomada por eles.
O rei Ezequias, bisavô, procurou
viver para Deus, destruindo mais uma vez todos os ídolos e procurando defender
Judá da Assíria. O seu problema foi ter confiado no Egipto para assegurar a
vitória sobre os ataques de que era alvo em vez de depositar toda a sua
confiança no Senhor. Isso valeu-lhe uma severa repreensão do profeta Isaías.
Outro dos seus erros foi ter
pedido ao Senhor mais 15 anos de vida, quando o profeta lhe disse que o seu
tempo na terra terminara.
Deus acedeu ao seu pedido e
concedeu-lhe esse tempo extra. Durante esse período, Ezequias fez amizade com o
povo da Babilónia e recebeu-os no seu reino, contrariando assim a vontade do
Senhor. Em consequência desse erro, o povo de Judá experimentou mais um cativeiro. Vejamos como
isso aonteceu:
Ezequias tem mais um filho –
Manassés- que é considerado um dos
piores reis da história de Judá; o rei mais sanguinário de todos. A morte do
seu próprio filho, que ele sacrificou ao deus Moloc é disso prova. Foi durante
o reinado de Manassés que Judá adoptou todo o tipo de cultos a deuses
estranhos e mergulhou no Espiritismo.
Por causa deste reinado, o Senhor
Deus prometeu que Judá seria julgado e levaria com a sua ira: mais um cativeiro.
Isto mostra que os nossos pedidos podem ter consequências desastrosas!
Depois de Manassés, chega Amon, que
morre dois anos após ter iniciado o seu reinado. Amon imitou o seu pai em tudo...
E neste ambiente que surge Josias,
que é constituído rei com apenas 8 anos.
O livro de Crónicas refere que o
Rei Josias procurou logo fazer reformas. Isto é, decidiu começar logo a alinhar
o seu reino com a vontade de Deus. Josias mostra-se imediatamente preocupado
com o Templo, pois este tinha sido desprezado durante muito tempo, desde 813ac.
Ou seja, ao longo de mais ou menos 200
anos, não foram realizadas quaisquer obras de manutenção no Templo. Esta
ausência de cuidado para com as coisas de Deus mostra que o povo se tinha
afastado totalmente do Senhor.
Nos versículos 8 a 10, lemos que o sumo-sacerdote encontra o
Livro da Lei e faz com que chegue até Josias. Ou seja, durante aproximadamente 200
anos, os sacerdotes fizeram o seu trabalho sem a Palavra de Deus*. Como é que é
possível? Há quem sugira que a Palavra fora deixada de lado pois o contacto com
ela punha em evidência o pecado presente nas suas vidas...
Aquele povo queria apenas as
bênçãos e a proteção do Senhor. Não estavam dispostos a darem a sua vida em
serviço a Deus.
Cristo é o melhor exemplo do que significa
dar a vida por alguém. E, como“Aquele que diz que está nele, também deve andar
como Ele andou” ( I João 2:6), será que estamos dispostos a imitar Jesus, dando
a nossa vida em serviço a Deus? Ou estamos acomodados na nossa zona de conforto?
Até que ponto servimos a Deus? Esateremos prontos para darmos a vida e a
prescindirmos do nosso conforto por amor a Deus?
Por vezes, à semelhança do povo
de Judá, também não sabemos onde está a nossa Bíblia... Oxalá percebamos a
importância da leitura diária das Escrituras no nosso lar e da realização do
culto doméstico.
Nos versos 11 a 13, vemos que, ao
ouvir as Escrituras, o Rei Josias rasgou as suas vestes. Isto revela
tristeza e pesar, mas também humildade. Ele reconhece assim que a sua
posição (a mais alta do Reino) não tem qualquer valor. O rasgar das vestes era também
sinal de reconhecimento do erro. Temos rasgado as nossas vestes perante Deus?
Josias compreendeu assim a razão do
sofrimento do povo. As derrotas constantes eram consequência do afastamento de
Deus. Não sabiam a importância de ouvir a Palavra, logo não a praticavam.
Entretanto, perante a “ameaça” de um novo cativeiro, Josias aconselha-se com a
profetisa Hulda a fim de perceber melhor o que podia fazer para alterar o rumo.
Leiamos o verso 19 que mostra o
resultado da atitude de arrependimento de Josias:
“O Senhor ouve as orações
daqueles que se humilham perante Ele. E mais, Deus transmite paz a esses
corações”.
Deus promete também a Josias que
enquanto ele vivesse, o povo de Judá seria protegido da sua ira. Percebemos
aqui também que mesmo quando os outros povos atacavam o povo de Deus, estavam
sempre debaixo da Soberania de Deus.
Nada acontece que não seja da Sua
vontade...
Há quanto tempo não nos humilhamos
diante de Deus? Há quanto tempo não reconhecemos que nada somos perante Ele,
ficando om o coração contrito?
É interessante notar que Josias
não mudou a Palavra de Deus nem tentou encontrar abertura para o erro do povo,
isto é, não tentou encontrar desculpas para os seus erros.
Vejamos, então, as reformas que
ele fez:
No capítulo 23, vemos que ele
renovou a aliança com o Senhor e leu as Escrituras em voz alta.
Como Rei, Josias disse ao povo que
a obrigação de o seguir. Iremos depois perceber se o povo o seguiu de coração
ou se o fez apenas para cumprir as
ordens do rei.
Josias destruiu e mandou queimar
todos os ídolos e vestígios dos mesmos. Acabou com o crematório para que
ninguém mais queimasse os seus filhos, uma prática comum naquele tempo.
Demoliu altares esantuários, aniquilou
todo o tipo de espiritismo e tudo o que fosse dedicado a deuses, tantor em Judá
como em Israel (Depois da morte do Rei da Assíria, Israel ficou ao abandono,
pelo que Josias pôde ir para além dos limites de Judá). Ninguém o parava!
Levou, então, a cabo uma grande
reforma... Como resultado, o povo voltou a celebrar a Páscoa, o que já não
acontecia desde o tempo dos juízes. Isto evidencia a coragem de Josias, mas
revela também a ingratidão do povo... Passaram 400 anos sem celebrarem a
libertação da escravatura de que forma alvo no Egipto. Não somos nós assim
também, tantas e tantas vezes? Pedimos muito, mas não rendemos ações de graça
na mesma proporção...
A Josias sucedeu um rei quase tão mau como Manassés, o Rei
Jeoquim. Ele também leu a Lei, mas rasgou- a. (Notemos o contraste com a
atitude de Josias).
O povo também voltou novamente às
práticas antigas, pois as mudanças que fizeram não foram feitas de coração...
Por mais mudanças que possam
existir, se não formos transformados
pela Palavra, essas mudanças serão
vãs...
II Coríntios 4:5 mostra que o
nosso homem interior se renova a cada dia. Tem-se renovado? Tem buscado
diariamente o Sennhor?
Na vida de Josias percebemos,
então, o caminho para o Senhor Jesus. Toda a Bíblia aponta para Ele....
Uma interpretação errada deste
texto poderia levar-nos a pensar que se fizermos todas as reformas necessárias
na nossa vida, seremos vitoriosos em tudo. Ou seja, basta sermos como Josias...
A verdade é que este texto mostra
que Josias aplacou a ira de Deus para com o povo, mostrando assim o que o Messias iria fazer com
a Ira de Deus. Jesus, como Messias
prometido, ao dar a Sua vida, levou sobre si a Ira de Deus que estava destinada
a nós...
Josias abençoou com a sua vida.
Jesus deu a Sua vida para nós termos vida. Logo, o nosso foco é Jesus, a nossa
vida é Jesus.
As reformas de Josias são o sinal
da santificação que um “Nascido de Deus” tem que realizar na sua vida.
Jesus veio dar àqueles que o Pai
lhe deu (João 10) a maior mudança que pode haver . Ele veio dar vida àqueles
que estavam espiritualmente mortos (Ef.2:1).
Não imitemos Josias com o
objetivo de obtermos de Deus aquilo que
almejamos. Olhemos para ele como um exemplo do que é viver para Deus.
Que mudanças temos que realizar
na nossa vida para que resplandeçamos a Glória de Deus?